Mudar de casa não é, apenas, uma tarefa física. E toda mudança envolve, necessariamente, o
aspecto emocional.
Deixar para trás tudo o
que foi vivido, em um determinado local, não é fácil: a família reunida na hora
das refeições; o momento dos ensinamentos dos pais; as festas de aniversários; as férias
aproveitadas ao extremo; as festas de fim de ano...
Tanta vida vivida do
lado de dentro daquele portão!
Em cada caixa, todas as
lembranças foram guardadas, não sem antes serem revisitadas. Algumas, mais uma
vez, outras, pela derradeira vez.
Jogos da adolescência,
cadernos do colégio, livros da universidade, trabalhos da especialização...
Tudo foi revivido, outra vez, e lhe trouxe ótimas recordações.
Os seus olhos
encontraram as fotos, registros que a memória, algumas vezes, termina
escondendo da realidade: a infância, a adolescência, os primos, a turma do colégio, as formatura, os amores...
Ah, amiga máquina
fotográfica, você não é cruel, muito pelo contrário! É que você captura a
vida, naquele determinado momento, geralmente muito feliz, para que ela possa ser
revivida posteriormente com novos olhos.
E vieram as saudades dos
verões, das viagens, dos amigos que a vida distanciou.
E doeu muito, mais uma vez, as saudades
dos entes já mortos. Parecia sentir os aromas e sabores, ouvir os sons, sentir a
presença. E as lágrimas rolaram silenciosamente no seu rosto.
À medida que encaixotava
os seus pertences, percebeu que ela era uma mulher encantadora, daquele tipo
que ela sempre admirou em livros, e, em um estalo, percebeu como ela ainda é
encantadora...
E, no meio de tanta
coisa, escritos, fotos, objetos, ela percebeu que foi preciso mudar para poder reencontrar
a sua essência e voltar a ser ela mesma, mais forte do que nunca.
(Emília Araruna, outubro
de 2018)
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