segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Corta Aqui...

Recuso-me a acreditar que aquelas pessoas que conheci desde a infância, e seguiram pela adolescência até chegar à idade adulta se transformaram em pessoas intolerantes.

Lembro quando nós nos reuníamos em qualquer lugar para conversar sobre os nossos sonhos e desejos, sobre a faculdade e a vida, sobre namoros e empregos em um clima de muita amizade e carinho. Tanto fazia ser na escadaria ou na pracinha da faculdade, no quiosque na beira da praia ou no restaurante badalado. Era sempre muito bom estar com a turma, fosse ela do colégio, da faculdade ou do trabalho.

Sim, eu sei que o tempo passou e que seguimos por caminhos diferentes, mas o sentimento que nos unia, desde sempre, permaneceu apenas até 2017, eu acho.

Questiono-me o que fez vocês mudarem após esse período, já que não suportam mais os amigos, nem as pessoas com as quais conviveram, porque elas se atreveram a pensam de forma diversa.

Por qual motivo tudo mudou, em pleno segundo tempo de nossas vidas? Quando passamos a desgostar do diferente? Desde quando nos importamos com quem torcia pelo Vasco, ao invés do Flamengo? Ou com quem preferia comer jaca ao abacaxi?

O que houve com vocês? O que houve com o sentimento de estarmos juntos, no melhor estilo "um por todos e todos por um"?

Talvez tenham se esquecido de quando íamos comer um cachorro-quente naquela lanchonete disputada, ou de quando íamos tomar um drink mesmo sem saber beber, ou de quando saíamos para dançar sem saber dar um único passinho. Lembro-me da viagem para aquela praia linda e daquele carnaval que nos divertimos mesmo com a cidade vazia. Lembro-me de quando perdemos os primeiros amigos da infância, ou da faculdade, e choramos juntos nos prometemos que nada iria nos separar.

Já faz tempo, eu sei, por isso é triste.

Na verdade, é muito mais doído do que triste.

É doído saber que as amizades não resistiram ao tempo. É doído saber que essas amizades foram descartadas porque não escolhemos o “seu” candidato, e não o mais preparado.

É doído saber que vocês estão afastando aquelas pessoas que desejavam o seu melhor, que torciam pelo seu mestrado ou doutorado, pela formatura do seu filho, pela viagem dos seus sonhos, finalmente, realizada.

É triste. É muito triste ter que dar adeus a tantas pessoas que conheci e que fizeram a minha vida mais alegre.

Mas é preciso! É melhor do que ser hostilizada por amigos...

Eu prefiro viver sem desejar mal aos outros. Prefiro viver torcendo pelo Brasil, viver sem julgar quem diz e faz absurdos nas redes sociais. Prefiro viver acreditando que Deus nos deixou ensinamentos de amor, paz e compaixão a ouvir afirmações repletas de ódio opostas aos dogmas da Igreja.

Cada dia que vivemos é um dia a menos em nossas vidas. Um a menos, lembre-se disso.

E eu não quero preencher a minha vida com dias cinzentos, mesmo que salpicados de verde e amarelo.  Eu não quero ouvir pessoas desejando o mal ao próximo nem procurando artimanhas para tentar modificar o resultado de uma eleição. Eu não quero passar quatro anos da minha vida em um lugar virtual, é verdade, onde combinarão a forma de prejudicar o nosso país em nome de um “bem maior”.

Eu quero ter dias repletos de coisas significantes. Sim, significantes!

Quero ter dias felizes ao lado dos meus pais e irmãos. Quero poder abraçar os avós, almoçar com a tia alto-astral, levar a sobrinha ao cinema, ser solidária com o amigo que perdeu o pai, ou a amiga que está passando por um problema grave de saúde. Quero poder sorrir quando o cachorro quer correr feliz em dia ensolarado, quando assisto a uma comédia, quando escuto uma piada, ou quando alguém liga dizendo que se lembrou de mim.

Viver é simples! Não precisamos ter o suv da moda, nem as roupas compradas naquela loja chique do shopping. Não precisamos ir a lugares da moda apenas para fotografar e postar em rede social. Não precisamos ter o cabelo da mesma cor ou corte daquela atriz. Não, nada disso.

Mas precisamos aprender a viver! Precisamos resgatar aquela alma pura com a qual nascemos. Precisamos aprender que o diferente não é ruim, apenas é diferente. Precisamos aprender a nos colocar no lugar dos outros, a ver com outros olhos. Precisamos compreender que as pessoas não são iguais, e essa distinção acrescenta muito às nossas vidas. Precisamos entender que a derrota em uma eleição não autoriza a transformar o país em um campo de batalha, muito menos a disseminar ódio e insanidade na vida das pessoas.

A vida é simples! Tão simples que assistir ao pôr do sol, tomar um sorvete e rir da sinceridade das crianças nos faz sentir um enorme prazer. E o simples como um sorriso verdadeiro, um abraço apertado, uma visita inesperada, um gesto de compaixão nos faz acreditar que o mundo está no caminho certo.

Por isso mesmo, corta aqui.

O céu está incrivelmente azul lá fora, os passarinhos estão fazendo uma linda sinfonia, o sol já vai se pôr. Virá uma bela lua, majestosa, imponente, brilhante, como todas as luas que precedem as luas cheias.

A Vida segue o seu curso. E eu sigo trazendo cores ao meu caminho, colorindo os dias cinzentos que teimam em surgir..