segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Sabino Guimarães Coêlho (parte 2)

Aqui está a segunda parte da matéria, escrita pelo professor Francelino Soares, sobre o meu avô, Sabino Guimarães Coêlho, para o site Coisas de Cajazeiras.

Vovô Sabino, além de um líder, sempre será motivo de grande orgulho para toda a nossa família!


FRANCELINO SOARES 19/11/2017

 Sabino não chegou a obter uma formatura superior, mas tornou-se um agrimensor, autodidata de mão-cheia, cujos serviços foram absorvidos pelo DNOCS, participando, ativa e profissionalmente, da construção dos açudes de São Gonçalo, Coremas, Condado e do nosso Boqueirão (Engenheiro Ávidos).

Após sua saída daquela repartição federal, o que ocorreu por vontade própria, criou uma firma, em sociedade com o seu amigo José Bezerra (Zé Bezerra Construtor), tendo os dois se dedicado à construção de vários açudes pela região circunvizinha.

A estória da barba, ele a cultivava desde a adolescência, não provavelmente por inspiração dos líderes bolcheviques. Os seus ideais de vida se baseavam nos conceitos aprendidos em obras lidas, mas, sobretudo, na máxima que ele tinha como lema: “Quem não trabalha não come”; Para ele, tal aforismo seria o reflexo de que somente com trabalho, educação e alimentos é que se fazem cidadãos de bem e honrados.

Quando, após o célebre comício de João Goulart (Jango), vingou o movimento militar de 31 de março de 1964, alguém, conterrâneo e contemporâneo seu, o denunciou aos patrocinadores da revolução e, então, começou o seu calvário.

Foi orquestrada uma “batida” em sua residência, localizada no final da Rua Dr. Coêlho, já nas embocaduras do Santo Antônio, imóvel ainda hoje pertencente à família e onde funciona a Escola Vitória Régia. Numa manhã, sem que ele estivesse em casa, três militares, comandados pelo Coronel Matusalém, uma troupe, armada de metralhadoras, invadiu a moradia, sendo recebidos por Vilma, na época funcionária do Banco Industrial de Campina Grande, que, comportando-se altivamente, prontificou-se a levá-los à sua famosa biblioteca, lotada de obras ditas subversivas. Inquirida se o seu pai era um subversivo, ela apenas retrucou que ele não o era, mas era sim um “nacionalista verde-amarelo”. A irmã Ivone calada estava e calada ficou. Ouviam-se apenas os protestos raivosos do cachorro Broto, presente do seu amigo Dr. Otacílio Jurema… Nada podia ser feito. Todos os livros foram confiscados e “… era uma vez, uma biblioteca”.

Não é verdade que o nosso personagem tenha-se evadido. Ele não estava na cidade, encontrando-se em missão de trabalho, lá pras bandas de alguma construção em cidades circunvizinhas. Foi então advertido por amigos e familiares sobre a necessidade de permanecer por lá, evitando uma arbitrária prisão.  Dentre esses amigos, além dos próprios familiares, merece destaque o Dr. Valdemar Sena, em cuja propriedade Sabino agrimensurava obras de açudagem.

Nessa fase da vida, foi o seu irmão caçula, Zé Crispim, quem, servindo de conselheiro, o ciceroneou pelas paragens e fazendas do pai e de membros da família, localizadas pelas proximidades da Fazenda Queimada, situada na Serra do Padre (hoje município de Bernardino Batista) e pelas fronteiras do Ceará e Rio Grande do Norte. Nesses momentos de incertezas, prontificaram-se em atendê-lo tanto os seus familiares como os amigos Zé Leite (das Areias), Lourenço (do Dr. Fernandes) e Raimundo Ferreira, além de outros que lhe eram próximos.

Passados os primeiros ventos desse temporal, era chegada a hora de Sabino retomar a sua vida e retornar ao habitat de sua família. Para isso, foi decisiva a intervenção do amigo Dr. Otacílio Jurema que o acompanhou à 2ª Secção do Quartel do 15º Regimento de Infantaria, em Cruz das Armas, João Pessoa-PB, o que foi efeito de forma espontânea, uma vez que Sabino desejava retornar ao convívio familiar.

Seu irmão Zé Crispim havia recebido a ficha de Sabino por “obra e graça” do Sargento Ruy Leitão, irmão do escritor Deusdedit Leitão, para que se tomasse conhecimento do que nela constava.  Cumpridas as formalidades exigidas pela ocasião, Sabino foi liberado, não se poupando de afirmar às autoridades militares que somente renunciaria às suas ideias “se lhe arrancassem a cabeça”.

Sabino legou à posteridade uma curiosa cartilha em que, como um precursor de Paulo Freire, pregava a convivência entre as classes que deveriam viver harmonicamente, sem diferenciação de cor, credo, status ou riqueza. Dizia ele que “era imprescindível a igualdade entre homens e mulheres, cujos direitos e obrigações devem ser recíprocos” e que “todos os cidadãos deviam aprender em casa, para não aprender na rua”.

Sabino, após enviuvar, depois de oito anos, casou-se, em segundas núpcias, com Francisca Rodrigues, com quem teve três filhas: Márcia Maria, Simone Márcia e Nadja. Deixou-nos em 27 de março de 1988, ocorrendo o seu desenlace no Hospital São Vicente de Paula, na Capital do Estado.

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