Recuso-me a acreditar
que aquelas pessoas que conheci desde a infância, e seguiram pela adolescência
até chegar à idade adulta se transformaram em pessoas intolerantes.
Lembro quando nós nos
reuníamos em qualquer lugar para conversar sobre os nossos sonhos e desejos,
sobre a faculdade e a vida, sobre namoros e empregos em um clima de muita
amizade e carinho. Tanto fazia ser na escadaria ou na pracinha da faculdade, no
quiosque na beira da praia ou no restaurante badalado. Era sempre muito bom
estar com a turma, fosse ela do colégio, da faculdade ou do trabalho.
Sim, eu sei que o tempo passou
e que seguimos por caminhos diferentes, mas o sentimento que nos unia, desde
sempre, permaneceu apenas até 2017, eu acho.
Questiono-me o que fez vocês
mudarem após esse período, já que não suportam mais os amigos, nem as pessoas
com as quais conviveram, porque elas se atreveram a pensam de forma diversa.
Por qual motivo tudo
mudou, em pleno segundo tempo de nossas vidas? Quando passamos a desgostar do
diferente? Desde quando nos importamos com quem torcia pelo Vasco, ao invés do
Flamengo? Ou com quem preferia comer jaca ao abacaxi?
O que houve com vocês? O
que houve com o sentimento de estarmos juntos, no melhor estilo "um por
todos e todos por um"?
Talvez tenham se
esquecido de quando íamos comer um cachorro-quente naquela lanchonete disputada,
ou de quando íamos tomar um drink mesmo sem saber beber, ou de quando saíamos
para dançar sem saber dar um único passinho. Lembro-me da viagem para aquela
praia linda e daquele carnaval que nos divertimos mesmo com a cidade vazia. Lembro-me
de quando perdemos os primeiros amigos da infância, ou da faculdade, e choramos
juntos nos prometemos que nada iria nos separar.
Já faz tempo, eu sei, por
isso é triste.
Na verdade, é muito mais
doído do que triste.
É doído saber que as
amizades não resistiram ao tempo. É doído saber que essas amizades foram descartadas
porque não escolhemos o “seu” candidato, e não o mais preparado.
É doído saber que vocês
estão afastando aquelas pessoas que desejavam o seu melhor, que torciam pelo
seu mestrado ou doutorado, pela formatura do seu filho, pela viagem dos seus sonhos,
finalmente, realizada.
É triste. É muito triste
ter que dar adeus a tantas pessoas que conheci e que fizeram a minha vida mais
alegre.
Mas é preciso! É melhor
do que ser hostilizada por amigos...
Eu prefiro viver sem
desejar mal aos outros. Prefiro viver torcendo pelo Brasil, viver sem julgar quem
diz e faz absurdos nas redes sociais. Prefiro viver acreditando que Deus nos
deixou ensinamentos de amor, paz e compaixão a ouvir afirmações repletas de
ódio opostas aos dogmas da Igreja.
Cada dia que vivemos é
um dia a menos em nossas vidas. Um a menos, lembre-se disso.
E eu não quero preencher
a minha vida com dias cinzentos, mesmo que salpicados de verde e amarelo. Eu não quero ouvir pessoas desejando o mal ao próximo
nem procurando artimanhas para tentar modificar o resultado de uma eleição. Eu não
quero passar quatro anos da minha vida em um lugar virtual, é verdade, onde combinarão
a forma de prejudicar o nosso país em nome de um “bem maior”.
Eu quero ter dias repletos
de coisas significantes. Sim, significantes!
Quero ter dias felizes
ao lado dos meus pais e irmãos. Quero poder abraçar os avós, almoçar com a tia
alto-astral, levar a sobrinha ao cinema, ser solidária com o amigo que perdeu o
pai, ou a amiga que está passando por um problema grave de saúde. Quero poder
sorrir quando o cachorro quer correr feliz em dia ensolarado, quando assisto a
uma comédia, quando escuto uma piada, ou quando alguém liga dizendo que se
lembrou de mim.
Viver é simples! Não
precisamos ter o suv da moda, nem as roupas compradas naquela loja chique do
shopping. Não precisamos ir a lugares da moda apenas para fotografar e postar
em rede social. Não precisamos ter o cabelo da mesma cor ou corte daquela atriz.
Não, nada disso.
Mas precisamos aprender
a viver! Precisamos resgatar aquela alma pura com a qual nascemos. Precisamos
aprender que o diferente não é ruim, apenas é diferente. Precisamos aprender a
nos colocar no lugar dos outros, a ver com outros olhos. Precisamos compreender
que as pessoas não são iguais, e essa distinção acrescenta muito às nossas vidas.
Precisamos entender que a derrota em uma eleição não autoriza a transformar o
país em um campo de batalha, muito menos a disseminar ódio e insanidade na vida
das pessoas.
A vida é simples! Tão
simples que assistir ao pôr do sol, tomar um sorvete e rir da sinceridade das
crianças nos faz sentir um enorme prazer. E o simples como um sorriso
verdadeiro, um abraço apertado, uma visita inesperada, um gesto de compaixão nos
faz acreditar que o mundo está no caminho certo.
Por isso mesmo, corta
aqui.
O céu está incrivelmente
azul lá fora, os passarinhos estão fazendo uma linda sinfonia, o sol já vai se
pôr. Virá uma bela lua, majestosa, imponente, brilhante, como todas as luas que
precedem as luas cheias.
A Vida segue o seu curso. E eu sigo trazendo cores
ao meu caminho, colorindo os dias cinzentos que teimam em surgir..