Mais
uma vez, peço licença para compartilhar um post
do professor e publicitário André
J. Gomes – diga-se de passagem, super bem escrito para este site aqui - porque acredito que
muita gente deveria ler e refletir sobre o tema... :)
Ilustração: Elena Romanova
E de
agora em diante, fica estabelecido que todos os corações vazios, mal amados,
partidos, abandonados ou tão somente subutilizados serão pacífica e
amorosamente invadidos e ocupados pelo amor em todas as suas formas.
Sem paus
e pedras e enxadas, mas com flores e música e presentes e simples declarações
de apreço e cuidado, o amor tomará posse irrevogável de todo e qualquer coração
devoluto. Banqueiros e bancários, construtores e operários, empresários,
professores, artistas de rua, profissionais de toda sorte, adultos e crianças e
velhinhos, todas as almas solitárias deste mundo! Preparem-se para ceder sem
luta à chegada implacável do amor às terras férteis de seus corações.
Abram
seus portões, escancarem as portas, liberem as janelas, prendam os cachorros e
preparem a casa à visita permanente do amor operário, trabalhador, corajoso e
simples. Ele vai chegar sem slogans ou passeatas, sem discursos, gritos de
guerra ou enfrentamentos com a polícia. Vai surgir na hora mais silenciosa da
noite, deitar ao seu lado e acordar com você na hora de ir ao trabalho, como se
ali estivesse desde sempre.
O amor
vai chegar assim, de manso, mas com o passo forte e a potência de um jato
varrendo a craca dos rancores, a sujeira grossa dos maus pensamentos, a gordura
acumulada das chateações diárias, da burrice, da inveja, da grosseria. Virá com
a força mesma da vida, desobstruindo os canais da memória entupidos de morte.
Virá alegre como o cão que reencontra o dono depois da eternidade de um dia
inteiro sozinho em casa, à espera.
E então
as preocupações ordinárias e mesquinhas farão as malas e deixarão os corações
livres para viver em absoluto estado de ocupação plena pelas intenções e ações
de um amor generoso, diário e vital.
Esse amor
que acorda cedo e faz ginástica, que parece tão mais jovem do que de fato é,
esse amor vai pintar as paredes da casa, mudar a posição dos móveis, vai matar
a sede e a fome que restam, soltar os passarinhos de suas gaiolas ridículas,
vai cuidar da horta no quintal e presentear os vizinhos com as verduras
frescas. Esse amor vai florescer e perdurar e se esparramar pelas redondezas.
Vai levar ao passeio diário os cachorros que vivem dentro de cada um de nós.
Esse amor vai invadir em paz a nossa vida tão talhada para a guerra.
E quando
as forças armadas de um coração já machucado se levantarem em defesa natural de
sua estrutura, em puro e simples movimento de autopreservação, o amor estenderá
sua mão pequena e linda, de unhas roídas e sem nenhum esmalte, e todas as armas
cairão em silêncio. Então esse coração abrirá suas fronteiras à chegada
irrefreável do encantamento amoroso e total, explosão de energia que nos leva
ao encontro de quem somos, nos resgata da morte e nos devolve, sãos e salvos, à
vida que é hoje, amanhã e depois um longo e eterno agora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário